Carlos Morais - "Rosas desfolhadas"

Carlos Morais - "Rosas desfolhadas"

A rubrica mensal "Autores Espinhenses”, pretende dar a conhecer as obras mais importantes de vários autores que nasceram, viveram ou ainda vivem em Espinho e que marcaram a vida literária e cultural do nosso concelho. 
Destacamos este mês a obra «Rosas Desfolhadas» do poeta Carlos de Morais que nasceu em 11 de agosto de 1887, na freguesia de Serzedo, concelho de Vila Nova de Gaia e faleceu em Espinho com 88 anos no dia 5 de outubro de 1975. 
O seu crescimento fez-se num mundo rural, nomeadamente, na quinta dos seus avós situada no lugar do Penedo que pertencia à freguesia que o viu nascer.  As suas primeiras letras foram ministradas pelo mestre Pertrunhas o mesmo que Júlio Dinis retrata na «Morgadinha dos Canaviais»1. 
Porém, o seu percurso profissional começou bem cedo, na cidade do Porto passou pelas exportadoras inglesas de Vinho do Porto, a sua profissão como contabilista foi exercida praticamente até quase os seus oitenta e cinco anos. 
Paralelamente à sua atividade profissional, a paixão pelas letras e o gosto pela escrita fez com que frequentasse as tertúlias nortenhas. A escrita de Carlos de Morais foi emergindo nos periódicos nortenhos, através de rimas humorísticas intituladas «piparotes» e sob o pseudónimo de «Frei João».  
No decorrer do ano de 1912 as primeiras líricas culminam na obra «Rosas Desfolhadas», editada por «Oliveira & Castro» de Gaia. 
A sua mocidade foi manifestamente ativa no que diz respeito à presença em periódicos, assumindo em 1916 a direção da revista «Gente Lusa-Arquivo de Letras e Artes» editada na praia da Granja. 
Aquando da sua chegada a Espinho, em 1917, colaborou nos vinte primeiros números do jornal semanário «O Oceano». Neste encontrou nomes como Alberto Barbosa, Joaquim Moreira da Costa e Mário Valente. Ainda neste ano, casa com Laura Pinheiro, constitui família que lhe daria três filhos (Joaquim, Maria Fernanda e Maria do Céu), dois netos (Carlos Afonso e Laura Maria) e um bisneto (Carlos Luís). 
Após ter adotado Espinho para viver, começou a ganhar dimensão com textos publicados em diferentes jornais da terra, destacando-se a poesia e o teatro. Nesse sentido escreveu mais dois livros e duas peças de teatro e ganhou prémios em jogos florais e concursos de quadras. 
Nos anos cinquenta, foi correspondente de «A República», com a coluna «Prato de Sardinha». As quadras publicitárias era outro dos seus registos, que o «O Primeiro de Janeiro» exibia no seu rodapé. 
Contudo, o nome da Carlos de Morais em Espinho ficou indubitavelmente associado à sua colaboração nos movimentos recreativos, pois as suas obras eram disponibilizadas para que se realizassem saraus, digressões e espetáculos de beneficência. 
A sua peça em verso «A Coroa de Rosas» e a opereta «No seio das Ondas», são estreadas no Teatro Aliança, no decorrer da década de vinte. Esta última foi musicada pelo maestro Fausto Neves, como outras: «A Vareira»; «Viva d’Espinho»; «Sobre as Ondas»; «Fado de Espinho»; a composição religiosa «Senhora da Paz” (Miraculosa). Outra peça que faz parte da bibliografia deste autor é a farsa «O Caso Complicado».  
O destaque desta rubrica incide no livro de versos, "Rosas desfolhadas”, com o qual o autor se estreou em 1912.  
Relativamente às notas críticas que encontramos sobre a obra, anteriormente referida, destacamos uma entrevista publicada pelo «Notícias» - Semanário das Terras de Santa Maria, em 5-10-1959, na qual o próprio autor responde à pergunta: 
- "Que sensação o invadiu ao ver publicados os seus primeiros versos, e, depois, o seu primeiro livro?” 
"De desgosto, de arrependimento! Uma insatisfação absoluta! Vontade de rasgar e recomeçar... Agora, paradoxalmente, chego a gostar desses versos, já tenho a fraqueza de gostar deles. Deve ser da idade... Antigamente, não! Quando apareceu o volume da minha estreia, confesso que chorei de vergonha... Senti remorsos de não resistir à fúria amiga dos que quiseram publicar-me o livro!...”2 
A 14-07-1952 o «Jornal de Notícias» também menciona o seguinte: "O autor não é um desconhecido. As «Rosas desfolhadas», dum lirismo simples já o haviam revelado à crítica com uma forte esperança.” 
Na crónica de Felisberto Ferreirinha, publicada no Jornal «Rumo», n.º 45 de 1952, este também apresenta (...) "A insaciedade do poeta é irredutível. Desde o seu primeiro livro de versos (...) a sua imaginação criadora jamais deixou de a esconder até onde as perspetivas mais deslumbram, dando-nos poemas de insensível maviosidade.” 

Bibliografia consultada:  

Morais, Carlos, 1887-1975  ; Gaio, Carlos Morais, 1954-2009 (coord.) - Antologia poética. Espinho : Câmara Municipal de Espinho, 1987. 145, [4] p. 

Consulte a bibliografia do autor, existente no CATÁLOGO online da Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva e requisite para empréstimo domiciliário.