Manuel Sancebas - "Ouvindo o mar"

Manuel Sancebas - "Ouvindo o mar"

Na rubrica mensal dedicada a autores que nasceram, viveram ou ainda vivem em Espinho e que contribuíram para o desenvolvimento literário e cultural do concelho, a seleção referente ao mês de março incide sobre a obra "Ouvindo o mar" de Manuel Sancebas. 

Manuel António Gomes da Silva, mais conhecido por Sancebas, nasceu a 29 de março de 1931, no Lugar do Rio Largo, em Espinho.  
A alcunha de Sancebas atribuída pelo seu pai ficou a dever-se ao seu carácter molengão. Ao longo dos anos Manuel António assumiu essa alcunha e esta ficou sem dúvida associada ao trabalho desenvolvido na comunidade espinhense, nomeadamente nas coletividades culturais e desportistas da terra. 
Manuel Sancebas na contracapa do seu primeiro livro, publicado aos oitenta e um anos de idade, apresenta-se da seguinte forma: 

«Sou de Espinho, não sei nadar; sou medroso e isto diz tudo. 
  Bem-haja a sina pelo meu estado civil: «esperto». 
  No entanto, deixo um filho que se chama Ouvindo mar. 
  Obrigado aos amigos que tanto me incentivaram para que escrevesse os poemas da minha vida. 
  Ó filho, espero que sejas considerado como o teu pai.»

Em diferentes composições poéticas que integram o seu livro está plasmado o amor que ele tinha pela sua família nomeadamente a figura maternal, pois com a partida prematura de sua mãe, Virgínia Assunção Silva, Manuel Sancebas acaba por conhecer o amor de sua mãe adotiva, Maria da Graça Silva Carvalho, que viria a casar com o pai, Manuel José Ribeiro.  
Através de uma conversa informal, Sancebas, referiu que queria ser como "Fausto Neves e Carlos de Morais”. Aprendeu solfejo na Banda de Música de Silvalde, pois como disse "tinha bom ouvido” o que lhe permitiu ser "um fazedor de músicas”. 
Na adolescência, iniciou a sua vida musical no Orfeão de Espinho e foi aluno do curso de acordeão do maestro Fausto Neves. 
Fez parte do primeiro conjunto musical "Império”, tocando acordeão. 
Criou aos 18 anos, com alguns amigos, a Comissão de Festas de S. João do Rio Largo, que organizou durante 50 anos. 
Aos 26 anos, concluiu o 4.º ano do Curso Geral de Comércio na Escola Industrial e Comercial de Espinho. 
Iniciou-se no Teatro, no Centro Cultural Dr. Manuel Laranjeira, sendo autor do texto dramático "Maldita Matemática” – comédia de ato único, representada no antigo Teatro S. Pedro, e integrou o Grupo Coreográfico de Espinho. 
Na Associação Académica de Espinho praticou voleibol e hóquei em campo. Foi inscrito aos 33 anos como jogador de hóquei em patins (tapa-furos) e foi seccionista de todas as modalidades que praticou e em hóquei de sala foi campeão europeu na série C, em Sófia na Bulgária.  
Fundou, musicou e coreografou o Rancho Infantil, «Os Miosótis de Espinho», nome atribuído ao rancho pelo poeta Carlos de Morais, e aquando da construção do salão paroquial fez renascer o Rancho Juvenil de Espinho. 
Durante 12 anos consecutivos, foi membro da Comissão de Festas de Nossa Senhora da Ajuda. 
Foi homenageado pela PROBUS Club de Espinho em 2003, pelo reconhecimento do seu trabalho em favor da Cultura Popular. 
Foi ainda membro da Direção da Banda de Música de Espinho, dos Mochos (clube desportivo) e da Associação Académica de Espinho. É sócio de Mérito da Federação Portuguesa de Hóquei e Irmão Benfeitor da Santa Casa da Misericórdia de Espinho. 
"Ouvindo o mar”, livro único do Sancebas, publicado aquando dos seus oitenta e um anos de idade, revela "o espírito jovem que lhe é reconhecido, de quem sonha e anseia projectos como forte sinal do seu carácter combativo e interventivo – um homem que não se resigna, porque, genuinamente, ama”. 
O registo de Manuel Sancebas é também encontrado nos textos denominados "Testamento de Judas”, publicados pelo jornal "Defesa de Espinho” na quadra pascal. 
Com os seus 90 anos participou no concurso de Quadras de S. João promovido pelo "Jornal de Notícias”, com um poema que ficou em 7. lugar, entre mais de três mil quadras. 

"Não há cascatas sem santos 
  Não há fogueiras sem fumo; 
  Nem o viver tem encantos 
  Se não souberes dar-lhe rumo”. 

 Manuel Sancebas como figura incontornável e carismática da cidade de Espinho, foi homenageado a 24 de junho de 2010 no Casino de Espinho. 
 Em 16 de junho de 2013 foi condecorado com as medalhas de ouro da cidade e do título de cidadão de Espinho, aquando das comemorações do 40.º aniversário de elevação de Espinho a cidade.  
 Passados oito anos, a cidade de Espinho ao celebrar o seu 48.º aniversário prestou-lhe homenagem atribuindo o seu nome a um largo situado no Rio Largo, seu "habitat” natural. 
 No prefácio da obra Ouvindo o mar, Francisco Marques refere que "A escrita (...) e a significativa produção musical constituem uma referência importante para a cultura popular portuguesa, revelando Sancebas como   um  homem do povo.” 

 

Bibliografia:  

Sancebas, Manuel, 1931- pseud. - Ouvindo o mar. Porto : Papiro, 2012. 112, [1] p. . ISBN 978-989-636-686-5  
Sancebas, Manuel, 1931- pseud. "Testamento de Judas”. Defesa de Espinho. (12 abr. 1990)  
"Académica de Espinho campeã europeia de hóquei de sala”. Defesa de Espinho. (22 fev. 1996)  
"Manuel Sancebas - emoções fortes e lágrimas”. Defesa de Espinho. (24 jun. 2010)