João da Chela - "Caminho eterno"

Na rubrica mensal, Autores Espinhenses, pretendemos dar a conhecer autores que nasceram, viveram ou ainda vivem em Espinho e que contribuíram para o desenvolvimento literário e cultural do concelho, a seleção referente ao mês de junho incide sobre a obra "Caminho eterno" de João da Chela. 
João da Chela, pseudónimo literário de Manuel de Jesus Pinto, nasceu na freguesia transmontano-duriense da Lousa (Torre de Moncorvo), em 26 de Fevereiro de 1896 e faleceu na cidade do Lubango (Angola) em 29 de Agosto de 1968. 
Nos primeiros anos do século XX, com apenas catorze anos, para fugir à rudeza e às adversidades de uma aldeia duriense, rumou para o litoral para a vila costeira de Espinho, onde exerceu a atividade de marçano e mais tarde a de caixeiro. Após nove anos de ter deixado a sua aldeia transmontana, já estava predestinado que o exercício da escrita faria parte da sua vida. 
Assim, em Espinho, Manuel de Jesus Pinto insurgiu-se na escrita, através da imprensa periódica e do quinzenário espinhense "Alma Nova: jornal dos novos. Literatura, charadismo e desporto”, do qual foi co-fundador e diretor. Segundo o catálogo da Biblioteca Municipal do Porto, este periódico publicou-se em Espinho, propriedade da empresa "Alma Nova” e contou com oitenta e uma edições, entre 18 de maio de 1919 e 20 de agosto de 1922. Foi seu editor  J. Marques de Carvalho e seu administrador Domingos Moreira da Costa. 
Neste jornal utilizou, particularmente para o charadismo, um nome diferente: «Judeu Errante». 
Segundo Carlos d’Abreu, através da leitura do primeiro editorial do jornal "Alma Nova” foi possível compreender que "a escrita seria doravante o seu fado”: 
"(…) vimos nós hoje anunciar, pois, o nascimento, a publicação dum novo jornal; o começo dum jornal dos novos, porque é a mocidade somente que o escreve, é ela que o funda, dela nasceu o gérmen e a essência desta obra (…). 
"(…) é a "Alma Nova” resumida na sua melhor aspiração. Cultivar a arte na literatura e nas coisas belas, é a nossa melhor e mais apaixonada aspiração, a nossa fé mais larga, o nosso entusiasmo mais louco o nosso delírio mais belo enfim. O nosso jornal traça assim o seu programa...” (Chela, 1919).  
Pois, a "Primeira página do primeiro número, na qual reservou a quarta coluna, a da direita e de todas a mais larga, para a Poesia. Três poemas, contando desde logo com a pluma de Manuel Laranjeira através de "Blasfemia Inutil”, de José da Silva Martins, o soneto "Á beira dum tumulo” e de José Maria dos Reis Pereira, "Soneto da Primavera”. 
Após constituir família e as responsabilidades financeiras terem aumentado levou-o a pensar no «sonho africano» e, assim, foi no final de 1924 que rumou para Angola, regressando apenas para umas rápidas férias no verão de 1960.  Na cidade de Sá da Bandeira dedicou-se a atividade comercial e à contabilidade. 
Contudo, foi durante a "Segunda Guerra que o autor optou pelo pseudónimo que o tornou mais conhecido, João da Chela, a serra sobranceira à capital da Huíla, iniciando a terceira etapa da sua vida e a longa série das «Crónicas da Huíla», que publicará sobretudo no Jornal de Benguela. A arte do autor baseia-se na descrição da paisagem natural e da sua componente humana e social, sendo esta demasiado plana e estereotipada; lembra-nos José Loureiro Botas pela capacidade fotográfica de evocar os hábitos e a linguagem popular do seu Alto Douro, que transcreve em Caminho Eterno”. 
Na introdução da obra "Caminho eterno” o autor, João da Chela, fez referência a Espinho, "(…) A formosa terra de banhos do mar, onde vivi o resto da infância e adolescência, na segunda década do século (…). 



ABREU, Carlos de - João da Chela : escritor angolano e do Douro Transmontano. [S.l.] : Caraba Ibérica, 2020. 163 p.
CHELA, João da, pseud. - Caminho eterno : romance. [S.l.] : J.C., 1965 (Sá da Bandeira : Livraria Académica). X, 255, [1] p 
Escritas. org. João da Chela. [Em linha]. [Consult. 25 de maio. 2022]. Disponível na Internet: https://www.escritas.org/pt/bio/joao-da-chela